quinta-feira, 25 de março de 2010

~ Soneto 35 ~

~ Soneto 35 ~


Não chores mais o erro cometido;
Na fonte, há lodo; a rosa tem espinho;
O sol no eclipse é sol obscurecido;
Na flor também o inseto faz seu ninho;


Erram todos, eu mesmo errei já tanto,
Que te sobram razões de compensar
Com essas faltas minhas tudo quanto
Não terás tu somente a resgatar;



Os sentidos traíram-te, e meu senso
De parte adversa é mais teu defensor,
Se contra mim te excuso, e me convenço


Na batalha do ódio com o amor:
Vítima e cúmplice do criminoso,D
Dou-me ao ladrão amado e amoroso.


William Shakespeare




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Sob o olhar de
ANA AMÉLIA CHAGAS JACINTO,
NAYARA CRISTINA RODRIGUES RAMOS,
TAMARA BELLOTI ORTIZ DE FREITAS.

“Sobre os sonetos de Shakespeare, Gueiros (1991) afirma que: “Há mais lendas e teorias fantásticas em torno dos sonetos de William Shakespeare do que poderia cogitar a nossa vã literatura, diria hoje Hamlet a Polônio” (p. 13). Esta afirmação nos leva a pensar sobre a complexidade dos sonetos shakespearianos, talvez nunca revelada por completo, e até hoje estudada por vários críticos. O soneto shakespeariano tem como principal característica a sonoridade, muito marcada através de aliterações, assonâncias, jogo de palavras e de tonicidade das sílabas. Sabe-se, ainda, que é intenção do autor a combinação de sons para que haja uma harmonia entre eles, uma vez que Shakespeare os compõem com a finalidade de aproximá-los a uma canção, tornando-os agradáveis aos ouvidos, embora apresente complexidade interpretativa reconhecida pelos seus leitores. Fowler (1987), afirma que:

Os sonetos de Shakespeare são, por vezes, difíceis, porque têm a privacidade pouco familiar da literatura manuscrita, que, no Renascimento, podia ser dirigida a um único patrono ou, pelo menos, a um número muito restrito de leitores. Mas também nos conseguem surpreender, atualmente, pelo seu teor altamente tradicional, embora Shakespeare o faça com uma amplitude de pensamento sem paralelos. E a sonoridade da sua linguagem satisfaz-nos, mesmo quando o significado é obscuro [...] (p. 8).

A respeito da estrutura, o soneto de Shakespeare, é composto por catorze versos, apresentando um sistema rítmico uniforme, que tem como padrão as rimas alternadas ou cruzadas nos doze primeiros versos, finalizando com o dístico, também denominado chave-de-ouro, com rima emparelhada ou paralela, resultando na seguinte forma “ababcdcdefefgg”. Este dístico é, normalmente, destacado por dois pontos e também pela diferença na tabulação, fazendo com que ele se localize duas letras à frente dos demais.”

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