terça-feira, 13 de abril de 2010

A Cismadora

A cismadora

Sedutora moreninha,
Que à tardinha
Vens pousar nessa janela,
Em que cismas tão calada,
Debruçada,
Com a mão na face bela?…

Os raios do sol poente
Docemente
Beijam-te a fronte mimosa:
E em teus sonhos engolfada
Descuidada
Nem sabes quanto és formosa.

O cabelo em longos fios
Luzidios
Pelos ombros te serpeia:
E os contornos do semblante
Deslumbrante
De leves sombras ondeia.

E quando assim apareces,
Me pareces
A estrela crepuscular,
Entre nuvens escoando
Clarão brando,
Que de amor nos faz cismar.

Quando cismas à tardinha
Tão sozinha,
O que vês lá no horizonte?
O que assim teus olhos prende,
E te pende
A donosa e pura fronte?

Acaso na flor da idade
Da saudade
Sentes já o agro pungir?
Ou nos sonhos de criança
Da esperança
Vês a estrela reluzir?

Que sopro te verga o colo
Para o solo,
Flor apenas entreaberta,
E faz pelos horizontes,
Sobre os montes,
Vaguear-te a vista incerta?

De algum anjo, teu irmão,
A canção
Estás ouvindo nos céus?
Ou do éden as campinas
Descortinas
Da tarde por entre os véus?

Do primeiro amor no enleio
Já teu seio
Acaso sentes arfar?…
E sofres n’alma o império
De um mistério
Que não sabes decifrar?

Ah! se nessa cisma vaga,
Que te afaga,
Minha imagem perpassasse…
Se no pobre bardo amante
Um instante
Tua idéia repousasse…

Se a mim fora reservado
Pelo fado
Levantar o casto véu,
E de amor as chamas puras,
E as venturas
Relevar-te, anjo do céu…

Mas não; — em tal não pensemos,
E deixemos
O anjo envolto em seus sonhos;
São leves nuvens, que passam,
Que esvoaçam
Em seus céus sempre risonhos.

São da inocência a fragãncia,
Que na infância
D’alma pura se evapora;
Aroma, que pelos vales
Verte o cálix
Do lírio ao raiar da aurora.

Sim, deixemos a alma bela
Da donzela
Em seus sonhos embebida;
É perfume da existência,
Pura essência,
Que embalsama o albor da vida.

Também a rola inocente,
Quando sente
A noite que se avizinha,
Arqueia o colo plumoso,
E em repouso
N’asa esconde a cabecinha.

Agosto de 1869.


Bernardo Joaquim da Silva Guimaraes
(1825-1884)

Nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais,. Formou-se em direito pela Faculdade de São Paulo. Exerceu as profissões de jornalista, juiz, professor, crítico e poeta. Seus romances, até hoje editados são bastante populares. Manuel Bandeira contudo ao se referir a Bernardo Guimarães, rotula-o de melhor poeta do que romancista. Suas principais obras são: Poesias, O ermitão de Muquém, O Garimpeiro, A escrava Isaura (esta última transformada em novela).

quinta-feira, 25 de março de 2010

~ Soneto 35 ~

~ Soneto 35 ~


Não chores mais o erro cometido;
Na fonte, há lodo; a rosa tem espinho;
O sol no eclipse é sol obscurecido;
Na flor também o inseto faz seu ninho;


Erram todos, eu mesmo errei já tanto,
Que te sobram razões de compensar
Com essas faltas minhas tudo quanto
Não terás tu somente a resgatar;



Os sentidos traíram-te, e meu senso
De parte adversa é mais teu defensor,
Se contra mim te excuso, e me convenço


Na batalha do ódio com o amor:
Vítima e cúmplice do criminoso,D
Dou-me ao ladrão amado e amoroso.


William Shakespeare




---------------------------------------
Sob o olhar de
ANA AMÉLIA CHAGAS JACINTO,
NAYARA CRISTINA RODRIGUES RAMOS,
TAMARA BELLOTI ORTIZ DE FREITAS.

“Sobre os sonetos de Shakespeare, Gueiros (1991) afirma que: “Há mais lendas e teorias fantásticas em torno dos sonetos de William Shakespeare do que poderia cogitar a nossa vã literatura, diria hoje Hamlet a Polônio” (p. 13). Esta afirmação nos leva a pensar sobre a complexidade dos sonetos shakespearianos, talvez nunca revelada por completo, e até hoje estudada por vários críticos. O soneto shakespeariano tem como principal característica a sonoridade, muito marcada através de aliterações, assonâncias, jogo de palavras e de tonicidade das sílabas. Sabe-se, ainda, que é intenção do autor a combinação de sons para que haja uma harmonia entre eles, uma vez que Shakespeare os compõem com a finalidade de aproximá-los a uma canção, tornando-os agradáveis aos ouvidos, embora apresente complexidade interpretativa reconhecida pelos seus leitores. Fowler (1987), afirma que:

Os sonetos de Shakespeare são, por vezes, difíceis, porque têm a privacidade pouco familiar da literatura manuscrita, que, no Renascimento, podia ser dirigida a um único patrono ou, pelo menos, a um número muito restrito de leitores. Mas também nos conseguem surpreender, atualmente, pelo seu teor altamente tradicional, embora Shakespeare o faça com uma amplitude de pensamento sem paralelos. E a sonoridade da sua linguagem satisfaz-nos, mesmo quando o significado é obscuro [...] (p. 8).

A respeito da estrutura, o soneto de Shakespeare, é composto por catorze versos, apresentando um sistema rítmico uniforme, que tem como padrão as rimas alternadas ou cruzadas nos doze primeiros versos, finalizando com o dístico, também denominado chave-de-ouro, com rima emparelhada ou paralela, resultando na seguinte forma “ababcdcdefefgg”. Este dístico é, normalmente, destacado por dois pontos e também pela diferença na tabulação, fazendo com que ele se localize duas letras à frente dos demais.”

domingo, 26 de abril de 2009

About Love

Khalil Gibran - Book: The Prophet

The Poet of Love
1883 - 1931


So Almitra said, speaks to us of Love.
And he raised his head and looked at the people and dropped a large immobility
on them. And in powerful voice he said:
When love comes to you,
Insurance although their paths are hard sinuous.


And when you engage their wings, Abrasive him, though the sword hidden under the wings you can hurt.

And when you speak it, acreditai,
Although her voice can shake your dreams like the wind ravaged the north lawn.

Because the love, crowning you, you also sacrifice.

Just as it is for your growth is also for your decadência.Mesmo it go up and caress you the most tender arms that tremble in the sun,
Also it down to the roots and shake them to
While they cling to the earth.
Bunches of wheat as he joins you to you.
You tomorrow for you uncover.

You screen for you free of impurities.
Grinds you to whiteness.
You love until you tomardes Moldova;
And then deliver you to his sacred fire, that you take holy bread for the holy feast of God.
All these things you will love until you know the secrets of your heart, and with this knowledge, you take a piece of the heart of Life.

But if, fearful, seek only peace of love and pleasure of love,
So you better hide your nakedness and saiais of love,
To the world where senseless rireis but not with all your laughter, and cry but not with all your tears.
Love only happens to you and not take nothing from you.
Love does not have nor is it owned;
Simply because the love to yourself.

When love shalt not say "God is in my heart," but "I'm in the heart of God."

And do not think that can change the course of love, because love, if you feel worthy, directs your course.

Love has no other desire that to complete itself.
But if you have love and wishes, these are your wishes:
Melt and be like a stream that flows and sings its melody to the night.

To know the pain of so much tenderness.
Be wounded by your own understanding of love;

And to bleed and will happily.
Wake at dawn with a winged heart and give thanks for another day of love;

Stand in the evening and meditate on the ecstasy of love;
To return home at night with gratitude;
And then sleep with a prayer for the beloved of your heart and a song of praise on your lips.